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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O PROFETA ESPERADO!



A "Vinda" do Messias e o "Fim do Mundo"

Fonte: www.mentesbereanas.org.br

“Dize-nos, quando acontecerão essas coisas? E qual será o sinal da tua vinda e do fim dos tempos?”

Esta foi a pergunta que os discípulos fizeram, depois de Jesus ter dado a eles uma notícia muito chocante. Depois de Jesus sair do templo, seus discípulos comentaram sobre a magnificência das construções deste. Em resposta Jesus disse:  

“Vocês estão vendo tudo isto?”, perguntou ele.“Eu lhes garanto que não ficará aqui pedra sobre pedra; serão todas derrubadas.” (Mateus 24:1-3).

Sem dúvida, os discípulos ficaram horrorizados com a notícia de que seu magnífico Templo seria um dia destruído. Em resposta eles fizeram a pergunta citada acima. O que os discípulos realmente quiseram dizer aqui é bem diferente do que muitos cristãos modernos entendem por estas palavras.

Embora Jesus tenha prevenido seus discípulos sobre sua prisão e iminente crucificação, eles não conseguiram compreender o significado do que ele estava dizendo. Sendo esse o caso, por que eles pediram um sinal de sua vinda se não sabiam que ele iria morrer em poucos dias? Por isso, precisamos considerar o significado dos termos gregos e do contexto cultural que influenciava o pensamento dos discípulos. - Lucas 18:31-34, Marcos 9:9, 10.

No versículo acima, a palavra vinda é a tradução da palavra grega parousia, sobre a qual o Dicionário Expositivo de Vine diz: 

"lit., "uma presença", para, "com", e ousia, "ser" (de eimi, "ser"), denota tanto uma "chegada" e uma conseqüente "presença com."... Paulo fala de sua parousia em Filipos, Filipenses 2:12 (em contraste com sua apousia, “sua ausência”; ver AUSÊNCIA)..." 

Assim, os discípulos perguntaram a Jesus, não sobre o sinal de sua vinda, e sim de sua presença. Qual era a importância desta questão? Durante seu ministério terrestre, Jesus não se proclamou publicamente como o Messias. Quando seus discípulos expressaram sua convicção de que ele era, ele advertiu-lhes para não tornar isso conhecido. [1] Ao perguntar “qual será o sinal da tua presença” [isto é, a do Messias] os discípulos queriam saber o que ele faria para apresentar-se publicamente aos judeus como o Messias. Com a notícia chocante sobre a destruição do Templo em suas mentes, talvez eles estivessem esperando ouvir que ele milagrosamente o salvaria ou reconstruiria.

Os discípulos perguntaram também sobre “o fim [grego, sunteleia] do mundo [grego, aion].” A respeito das palavras gregas usadas aqui o Dicionário Expositivo de Vine diz:
“[Sunteleia] significa "levar a cabo em conjunto" (sun, "com", teleo, “para completar”, semelhante ao nº 1), marcando a “conclusão” ou consumação das várias partes de um esquema. Em Mat. 13:39-40, 49; 24:3; 28:20, a versão “o fim do mundo” (texto da KJV e RV) é enganosa; a que está na margem da RV, "a consumação do século”, é correta. A palavra não denota uma terminação, mas a seqüência dos eventos até o clímax designado. Aion não é o mundo, e sim um período, época ou era na qual os eventos ocorrem.”

Como podemos ver com base nesta informação, os discípulos não estavam perguntando sobre o fim do mundo como o conhecemos, nem sobre a dissolução do universo. Eles estavam perguntando sobre a consumação de uma era na história. Que era? A expectativa judaica era que quando o Messias aparecesse ele iria estabelecer o seu reino em Jerusalém, libertar o povo do jugo da dominação gentia, e levar Israel a se tornar a superpotência do mundo. Levando-se esta expectativa judaica em conta, uma paráfrase da pergunta deles seria a seguinte:

‘Dize-nos quando será a destruição do Templo, e qual será o acontecimento por meio do qual você se apresentará publicamente como o Messias, de modo a levar Israel ao seu destino como potência?'

A maioria dos cristãos acredita que a realização da profecia feita por Jesus em resposta à pergunta dos discípulos se aplica a um tempo ainda futuro, quando o 'fim' deste 'mundo' ou 'era' em que vivemos agora irá ocorrer. Todavia, uma característica proeminente da pergunta dos discípulos, na verdade o próprio ponto que levou a essa pergunta deles, foi a revelação de que o Templo seria destruído. Nenhum templo como aquele existe hoje. Pode-se argumentar que o templo será reconstruído no futuro, para que esta profecia seja cumprida. Mas os discípulos não estavam interessados ​​em um templo ainda não construído, e que só o seria dois mil anos ou mais no futuro. Eles estavam preocupados com o templo que estava em Jerusalém naquele momento, um que eles pudessem ver com seus próprios olhos, e era sobre este Templo que Jesus falava.

Jesus advertiu: 

“Assim, quando vocês virem ‘o sacrilégio terrível’, do qual falou o profeta Daniel, no lugar santo — quem lê, entenda — então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes.” (Mateus 24:15, 16).

Embora futuristas especulem sobre a forma como esta profecia será cumprida, a Bíblia não nos deixa à mercê dos palpites deles. O relato paralelo em Lucas nos diz claramente: 

“Quando virem Jerusalém rodeada de exércitos, vocês saberão que a sua devastação está próxima. Então os que estiverem na Judéia fujam para os montes, os que estiverem na cidade saiam, e os que estiverem no campo não entrem na cidade. Pois esses são os dias da vingança, em cumprimento de tudo o que foi escrito. Como serão terríveis aqueles dias para as grávidas e para as que estiverem amamentando! Haverá grande aflição na terra [2] e ira contra este povo. Cairão pela espada e serão levados como prisioneiros para todas as nações. Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos [3] deles se cumpram.” (Lucas 21:20-24).

O cerco de Jerusalém pelos exércitos romanos em 66 AD foi o sinal que deixou clara a iminente destruição daquela cidade e seu Templo. Durante a retirada temporária dos romanos, os cristãos judeus atenderam a advertência de Jesus e fugiram para as montanhas da Peréia. Em um cerco posterior, os judeus que permaneceram em Jerusalém morreram ou foram levados para o cativeiro.

No momento em que Jerusalém foi destruída no ano 70 AD, todos os detalhes da profecia de Jesus se cumpriram [4] , conforme ele mesmo declarou:

"Eu lhes asseguro que não passará esta geração até que todas essas coisas aconteçam." (Mateus 24:34) [5]
Os que não concordam com este conceito argumentam que a frase “esta geração” não significa a geração daqueles que ouviam Jesus, mas refere-se a uma geração futura. Pouco antes de ter esta palestra com seus discípulos, Jesus declarou "ais" contra os escribas e fariseus. Em uma deles Jesus disse: 

"Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas!... "Serpentes! Raça de víboras! Como vocês escaparão da condenação ao inferno? Por isso, eu lhes estou enviando profetas, sábios e mestres. A uns vocês matarão e crucificarão; a outros açoitarão nas sinagogas de vocês e perseguirão de cidade em cidade. E, assim, sobre vocês recairá todo o sangue justo derramado na terra, desde o sangue do justo Abel, até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias, a quem vocês assassinaram entre o santuário e o altar. Eu lhes asseguro que tudo isso sobrevirá a esta geração.” (Mateus 23:29-36).

Nenhum comentarista bíblico propõe que Jesus estava se referindo a alguma geração futura aqui. Que razão tinham os discípulos de Jesus, que o ouviam pronunciar estas desgraças, para extrair dois significados diferentes para a expressão "esta geração", principalmente se levarmos em conta que esses dois pronunciamentos de Cristo foram feitos dentro dum intervalo de poucas horas? 

Qual era, então, o sinal da presença (parousia) de Jesus, isto é, qual foi o evento que provou que ele era o Messias [6] pelo qual Israel esperava? Deuteronômio 18:18-22 relata que Deus disse a Moisés: 

“Dentre os seus irmãos lhes suscitarei um profeta semelhante a ti; porei na sua boca as minhas palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar. Todo aquele que não ouvir as minhas palavras que ele falar em meu nome, eu o requererei dele. Mas o profeta que se houver com presunção, falando em meu nome uma palavra que não lhe ordenei falar, ou que falar em nome de outros deuses, esse profeta morrerá. Se disseres no teu coração: Como poderemos conhecer a palavra que Jeová não falou? Quando um profeta falar em nome de Jeová, se a coisa não se cumprir, tal coisa Jeová não falou; o profeta a falou com presunção, não terás medo dele.” (Sociedade Bíblica Britânica).

O surgimento dos exércitos romanos e a subseqüente destruição de Jerusalém e seu Templo provaram que Jesus era um profeta verdadeiro. Uma vez que Jesus afirmou ser o Messias - e um verdadeiro profeta não mentiria - esses eventos também provaram que ele é o Messias de Deus.

A TORAH E A CIÊNCIA (Fonte: www.chabad.org.br)

Recentemente, você mostrou-me uma carta que recebeu de um aluno da Colgate University em Hamilton, Nova York. Nesta carta, o missivista professa ser um verdadeiro pensador científico, e descrente no sobrenatural; ele também afirma que todos os fatos parecem estar em contradição com a existência de D’us, professa ser um "judeu liberal", etc., etc.

Não conhecendo o modo de criação deste estudante, nem o campo da ciência no qual ele se especializa, não posso tratar do assunto de modo mais aprofundado, especialmente em uma carta. Existem, porém, diversas observações gerais que posso fazer, as quais o mencionado estudante aparentemente deixou de lado, e que penso deveriam ser cuidadosamente consideradas por ele.

1 – A ciência não vem com conclusões precipitadas e crenças com a idéia de reconciliar e ajustar fatos a estas crenças. Ao contrário, lida com fatos e depois formula opiniões e conclusões. Abordar um assunto com a mente da pessoa abrigando idéias pré-concebidas não é o verdadeiro pensamento científico, mas uma contradição a ele.

2 – A ciência exige que nenhuma conclusão seja validada antes que pesquisa e estudo minuciosos sejam feitos sobre o assunto. A questão, portanto, apresenta-se: Quanto tempo e esforço o missivista acima mencionado devotou ao estudo da religião para justificar sua conclusão sobre o assunto?

3 – Um fato é considerado como um evento ou fenômeno atestado por testemunhas, especialmente onde a evidência é idêntica e vem de testemunhas de interesses variados, educação, origem social, idade, etc. Onde existe tal evidência, ela é aceita como um fato inegável, mesmo que não concorde com uma teoria científica. Esta é a prática aceita pela ciência, mesmo onde há diversas testemunhas confiáveis, e certamente centenas e milhares delas.

A Revelação Divina no Monte Sinai foi um fato testemunhado por milhões de pessoas, e todas o relataram em seus mínimos detalhes, acuradamente, pois todo o povo de Israel estava ao pé do Sinai e presenciou o fato.

Sabemos que isso é um fato porque milhões de judeus atualmente o aceitam como tal, porque eles o receberam como tal de seus próprios pais, estes milhões por sua vez receberam a prova da geração anterior, e assim por diante, numa corrente ininterrupta de evidência transmitida de milhões e milhões de testemunhas, geração após geração, até chegar aos milhões de testemunhas originais que viram o evento com seus próprios olhos.

Em meio às testemunhas originais havia muitas que eram iniciadas nas ciências daquela época (i.e., o Egito), muitas realizações que ainda são desconcertantes hoje em dia; havia entre eles filósofos e pensadores, bem como pessoas ignorantes e sem instrução, mulheres e crianças de todas as idades. Apesar disso, todas elas reportaram o evento e o fenômeno conectado a ele sem qualquer espécie de contradição.

Tal fato é certamente indiscutível. Não creio que haja um outro fato que possa ganhar desse em provas e acurácia. Negar tal fato é tudo exceto científico; é exatamente o oposto da ciência.

Cá entre nós, é desafortunado que esta diferença básica entre a religião judaica e outras seja tão pouco conhecida, pois o Judaísmo é a única religião que não está baseada num único fundador ou uns poucos, mas é baseada na Revelação Divina testemunhada por todo o povo, totalizando vários milhões.

Isso responde também à declaração de que "a aceitação da Torá como sendo a única verdade é perigosa" pois "seus autores não passavam de homens… e como homens não poderiam ser infalíveis." Os judeus aceitam a Torá exatamente porque foi outorgada por D’us, não pelo homem, e foi entregue na presença de milhões de pessoas que viram e assistiram com os próprios olhos e ouvidos. É por isso que a Torá é a verdade absoluta, pois D’us é absoluto.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

DEUS CRIOU O MAL?

Como Pôde Um Deus Santo Criar o Mal?

“Eu sou Jeová, e não há outro. Eu formo a luz, e crio as trevas; faço a paz, e crio o mal; eu sou Jeová que faço todas estas coisas.” – Isaías 45:6, 7 (Sociedade Bíblica Britânica)
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“Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos”, cantaram os serafins de Deus, conforme registrado em Isaías 6:3. O profeta Habacuque disse sobre Ele: “Teus olhos são tão puros, que não suportam ver o mal; não podes tolerar a maldade.” (Hab 1:13) Como é possível, então – refletem os homens de fé – um Deus Santo ter criado o mal, como o trecho de Isaías citado acima diz que Ele faz?

Uma leitura casual dessa passagem problemática tem levado a conclusões estranhas. Alguns concluíram que Deus criou Satanás, o Diabo e/ou os demônios já como pessoas maléficas. [1] Outros sugeriram que, se Deus pode criar o mal, não existem realmente espíritos maus ou demônios, sendo estes apenas figuras de linguagem bíblica ou personificações do mal.
Perguntamos mais uma vez: como pode um Deus Santo criar o mal?

Em primeiro lugar é preciso perceber que este trecho foi escrito originalmente em hebraico e depois traduzido para outros idiomas, incluindo os modernos. Como cristãos, acreditamos que esse trecho de Isaías foi inspirado por Deus e é totalmente verdadeiro. Mas sabemos também que a leitura dele nos idiomas modernos é uma tradução não inspirada, obra de homens imperfeitos. Poderia a seleção das palavras nas traduções ser menos precisa para o leitor moderno?

Antes de examinarmos essa expressão perturbadora mais de perto, vamos examinar a expressão oposta, fornecida no mesmo trecho, “faço a paz”. O termo hebraico traduzido como paz é shalom. Os comentaristas admitem que esta palavra das línguas modernas é muito mais limitada no significado do que o termo hebraico. De fato, nossa expressão paz e prosperidade chega bem mais perto do sentido exato. Isso nos leva a perguntar: será que o termo hebraico traduzido como mal também tem uma abrangência mais ampla de sentido do que a conotação usual do termo nas línguas modernas?

O termo hebraico traduzido como “mal” é rah. Pode significar mau ou mal, seja natural ou moral. Outras palavras modernas que poderiam ser usadas para expressar este termo são adversidade, aflição ou calamidade. Um desastre natural como um terremoto é rah, mas esse desastre não é mal em sentido moral. Conforme a Bíblia bem atesta, Iavé pode trazer a prosperidade para aqueles a quem Ele escolhe, e o desastre sobre quem Ele quiser. Como atos de julgamento, esses desastres são certamente rah para as pessoas sobre as quais eles sobrevêm, mas por serem atos de justiça de Deus, não podem ser considerados como moralmente iníquos.

Mas, o que dizer do mal em sentido moral? Será que Deus criou isso? Se Deus realmente criou o mal moral, não seria Ele, então, moralmente responsável pela iniqüidade cometida? À primeira vista, alguém poderia dizer que sim. Existe alguma maneira em que se pode afirmar que Deus criou o mal moral, sem fazer dele moralmente responsável? Façamos um exame da questão a partir deste ponto de vista.

Para nos ajudar a compreender, precisamos examinar a linha anterior deste versículo: “Eu formo a luz, e crio as trevas.” A escuridão existe na ausência de luz. A escuridão não têm ou nem precisa de uma fonte. A luz, por outro lado, precisa ter uma fonte. Sem a existência da luz, a escuridão seria universal, porém indefinível. Precisamos de um contraste para realmente compreender o conceito. Sendo este o caso, pode-se fazer a mesma pergunta na situação inversa desse trecho. Se a luz natural e as trevas estão sendo mencionadas aqui, teríamos então o seguinte trecho: eu crio a luz e formo as trevas. No entanto, Deus está falando sobre a luz e as trevas espirituais, de modo que o fraseado acima é que é o correto. O próprio Deus é a fonte de luz espiritual, e uma vez que Ele é incriado, seria errado dizer que Ele criou a luz espiritual; ela sempre existiu com Ele.

Como, então, Ele cria a escuridão espiritual? Por definir a luz espiritual, ou seja, dizendo o que ela é e o que não é. O mesmo acontece no caso de shalom e rah. Ele é a fonte, a própria personificação da paz. Portanto, teria sido incorreto dizer que Ele a criou, já que ela sempre existiu com ele. Mas, por dar a definição de shalom, Ele cria o rah.

Isto é verdade até mesmo quando passamos estes termos para o âmbito moral. Paulo nos ajuda a compreender isso com dois trechos do livro de Romanos:

... onde não há lei, não há transgressão.” (Rom. 4:15) “... Que diremos então? A lei é pecado? De maneira nenhuma! De fato, eu não saberia o que é pecado, a não ser por meio da lei. Pois, na realidade, eu não saberia o que é cobiça, se a lei não dissesse: "Não cobiçarás". Mas o pecado, aproveitando a oportunidade dada pelo mandamento, produziu em mim todo tipo de desejo cobiçoso. Pois, sem a lei, o pecado está morto. De fato a lei é santa, e o mandamento é santo, justo e bom.” (Rom. 7:7, 8, 12)

Deus, por definir o que era santo, justo e bom, criou o mal, mas sem ser moralmente responsável por ele. Considere o seguinte: Se o assassinato não é definido como um crime, então um assassino não é um criminoso. Se a cobiça não é definida como um pecado, então uma pessoa que cobiça não é um pecador. Ao estabelecer um padrão do que é certo, Deus criou o que é errado.

Mas a criação do mal por Deus não para por aqui. Ele concedeu a faculdade do livre-arbítrio à sua criação inteligente. [2] Ao criar uma situação na qual o mal moral pôde vir ao mundo, Ele o criou efetivamente, embora Ele mesmo não tenha criado pessoas iníquas, nem tenha praticado qualquer má ação. O que Ele fez foi criar seres com liberdade moral, dando-lhes um padrão do bem e do mal, e permitindo-lhes decidir livremente que caminho escolher. Dessas maneiras, Iavé Deus criou o mal, e ainda assim Ele próprio permaneceu santo.

FONTE: www.mentesbereanas.org

A TORÁ COMO A PALAVRA DE DEUS

Revista Morashá -  Edição 75 - abril de 2012

No artigo “A verdade histórica da Revelação Divina no Monte Sinai”, analisamos se há razão suficiente para se acreditar que D’us Se revelou ao Povo Judeu no Monte Sinai. Como vimos no artigo, à página 10, as fontes básicas de conhecimento sobre a Revelação Divina são a transmissão oral, de geração a geração, e um registro escrito, a dizer, os Cinco Livros da Torá. Caso haja uma razão sólida para acreditar que a Torá é de autoria Divina, a veracidade do que quer que a mesma nos relate, inclusive a Revelação Divina no Sinai, é, pois, inquestionável. No entanto, se a Torá tivesse sido escrita por um ser humano, ainda que por Moshé, sua veracidade e autoria poderiam ser questionadas – pois nenhum homem é dono da Verdade Absoluta. 

Halachá LeMoshé MiSinai

Como o judaísmo advoga que a Torá é a Palavra de D’us, seria lógico presumir que não há desacordo ou discussão acerca de suas leis. Contudo, na realidade, o Talmud Babilônico, que elucida os Cinco Livros da Torá e constitui o pilar da Lei Judaica, é formado por uma série de divergências e debates entre nossos Sábios. 

Cabe perguntar: se D’us transmitiu a Torá a Moshé, haverá o que discutir sobre suas leis? A resposta profunda a essa pergunta está além do escopo deste artigo, mas a resposta simplista, fornecida pelo Talmud de forma explícita e não apologética, é que no dia em que Moshé deixou este mundo, o Povo Judeu esqueceu muitas das leis da Torá Oral, que são as elucidações e explicações da Torá Escrita. Por isso, coube aos Sábios, através de discussões, lógicas e análises, tentar recuperar o conhecimento perdido. No entanto, os ensinamentos da Torá Oral que não foram esquecidos não estão sujeitos à discussão. 

No Talmud, há uma frase “mágica” que coloca um ponto final em qualquer discussão: Halachá LeMoshé MiSinai – em português, “trata-se de uma lei transmitida a Moshé no Sinai”.

As divergências existentes no Talmud não contestam, mas até corroboram a Revelação Divina no Sinai e a Divina Autoria da Torá. Como a Revelação ocorreu apenas uma única vez e como a Torá foi criada por D’us e transmitida apenas a Moshé, não houve quem vivesse após Moshé que pudesse ensinar as leis que tinham sido esquecidas. Como ensina o Talmud (Tratado Temurá 16ª): “Um profeta não está autorizado a introduzir nada de novo”. A Torá deu aos Sábios o poder de decretar leis rabínicas, mas as leis bíblicas não podem ser alteradas, criadas ou abolidas. Como ensina o Midrash (Devarim Rabá, 8:6): “Moshé disse ao Povo Judeu: ‘Não digam que outro Moshé surgirá, com outra Torá dos Céus; já lhes estou anunciando, agora, não está nos Céus. Nada restou nos Céus’”. 

O fato de que os Sábios do Talmud discordassem acerca da aplicação adequada de muitas das leis da Torá é uma indicação de que o judaísmo não é dogmático, mas é a busca da verdade. Por outro lado, o fato de que apesar de todas as suas discordâncias, os Sábios unanimemente concordam sobre tantos pontos, é uma boa evidência de que o judaísmo tem uma única origem comum; pois, de outra forma, os Sábios do Talmud debateriam sobre os mínimos pontos da Lei Judaica. Quando as pessoas que costumam discordar entre si estão de acordo sobre umas tantas coisas, geralmente é sinal de que há uma razão para tal. Se para os Sábios do Talmud, Halachá LeMoshé MiSinai não estava sujeita à discussão, significa que a veracidade da Revelação Divina no Sinai e da Autoria Divina da Torá eram incontestáveis para eles. Assim sendo, eles não desperdiçariam seu tempo e energia discutindo o óbvio.

Mas, se não tivesse ocorrido a Revelação Divina no Sinai e se a Torá não tivesse sido escrita por D’us, o conceito da Halachá LeMoshé MiSinai não existiria. Pois se a Torá foi escrita por Moshé, por que seria proibido a um profeta ou um sábio de um período posterior mudar qualquer de suas leis ou, ao menos, instituir decretos que pudessem solucionar todas as dúvidas sobre a Lei Judaica?

Na verdade, na ausência de uma Revelação Divina, será que deveríamos atribuir a um ser humano o poder de criar leis imutáveis e, de fato, nem sequer passíveis de discussão? Com todo o respeito a Moshé, ele não fundou o judaísmo, nem foi um de nossos Patriarcas. E se a Torá tivesse sido escrita por ele, por que razão deveríamos acreditar, como diz a Torá, que ele foi o maior profeta de todos os tempos? Além disso, a tradição judaica não mede palavras em sua tentativa de humanizá-lo. É inconcebível que os judeus atribuíssem autoridade divina a o que quer que fosse que Moshé lhes ensinasse, a menos que soubessem que a Torá não era dele, mas realmente do D’us de Israel.

Se a Torá não tivesse sido escrita pelo Todo Poderoso, os profetas e Sábios que vieram após Moshé poderiam ter mudado algumas de suas leis – coisa que nunca ocorreu. No curso da História Judaica, criaram-se leis rabínicas, que foram modificadas e até rechaçadas, mas ninguém jamais ousou tocar na lei bíblica. Ninguém ousou argumentar com a Halachá LeMoshé MiSinai. Se todos os profetas e Sábios que viveram após Moshé se recusaram categoricamente a substituí-lo ou mesmo a tentar replicar o que ele conquistara – nem mesmo pela nobre razão de tentar recuperar o conhecimento que foi perdido com sua morte – é porque sabiam que a Torá era a Palavra de D’us, que fora transmitida apenas a Moshé; e agora que ele se fora, não havia como novamente trazer a Torá dos Céus à Terra.

Um livro de lendas?

É possível que o Povo Judeu tenha aceitado primeiramente a Torá como um livro de lendas e que, com o passar do tempo, após o transcurso de muitas gerações, quando já não era mais possível corroborar a veracidade de seus relatos, tenha sido aceita como verdade? Consideremos a seguinte teoria: alguém no deserto – quiçá Moshé, quiçá alguém outro – redigiu a Torá, inclusive o relato da Revelação Divina no Sinai, e todo o povo o aceitou, apesar de ser tudo invenção, pois eles nem o levaram a sério: consideraram que tudo fosse mitologia judaica. Passado o tempo, no entanto, um número cada vez maior de judeus começou a acreditar que aquelas histórias eram verdadeiras. 

Esta teoria é popular entre ateus e agnósticos. Mas é uma teoria relativamente fácil de ser rechaçada. Primeiro, nos últimos 3.000 anos, apesar de todas as diferenças e divergências existentes entre o Povo Judeu, nunca houve uma tradição que dissesse que a Torá é obra de ficção. Mesmo os Caraítas, que não aceitavam os ensinamentos da Torá Oral, acreditavam categoricamente que cada uma das palavras da Torá Escrita era a Palavra de D’us. É possível que toda a geração do deserto tenha adotado a Torá como obra de ficção, mas, em algum momento da História Judaica, esse fato foi esquecido ou negligenciado por todos os judeus e todos começaram a acreditar que a Torá foi historicamente precisa? Para exemplificar quão improvável é essa teoria, pensemos em quão improvável é que todos os gregos vivos hoje mudassem de ideia sobre a Ilíada e a Odisseia e começassem a crer que esses trabalhos não são lendas, mas fatos históricos.

Segundo, há apenas uma versão da Torá, e não há relatos conflitantes sobre os eventos que descreve. Através da história, muitos judeus, especialmente os insolentes Reis de Israel, poderiam ter justificado seu comportamento pecaminoso alegando que a Torá era uma invenção ou um livro de lendas. Se essas pessoas apenas pudessem apresentar alguma evidência de que a Torá não fosse Divina – de que foi escrita por Moshé ou por outros seres humanos – eles poderiam ter algum tipo de desculpas para muitas de suas próprias ações, especialmente sua idolatria, que não prejudicou nenhum outro homem. Mas nos últimos três milênios, mesmo os judeus que mais se beneficiariam levantando dúvidas sobre a autoria da Torá, não o fizeram. Eles poderiam ter questionado a Justiça Divina, mas nunca tiveram a audácia de questionar a verdade da Revelação no Sinai e a legitimidade e a Divina autoria da Torá. E por quê? Porque como explicamos no artigo anterior, um evento público que envolveu milhões de pessoas é praticamente impossível de ser negado.

Terceiro, é inconcebível que pessoas sensatas inventassem muitas das leis que constam na Torá, e, ainda mais, que inventassem o conceito de que o Criador do mundo os fizesse responsáveis por respeitá-las (Este Criador a quem jamais teriam visto se o relato da Revelação Divina fosse invenção). Exemplificando: a lei da Shemitá – os ordenamentos ao Povo Judeu de abrir mão do trabalho agrícola na Terra de Israel de sete em sete anos (Levítico 25:1-24). A Torá ordena aos judeus que sigam esta lei e não se preocupem com a falta de alimento, pois D’us os abençoará com fartura de provisões no sexto ano para compensar o sétimo em que se absterão de trabalhar a terra.

Consideremos: Por que os seres humanos escreveriam uma tal lei? Será que colocariam sua própria sobrevivência e a de seus filhos em risco? Será que inventariam promessas de um Fiador e diriam às gerações futuras que deviam cumprir esse mandamento porque o Criador do mundo proveria a eles, quando, na realidade, eles mesmos sabiam que uma tal promessa Divina jamais havia sido feita? E o que aconteceria quando, no ano antes do Sabático, a colheita não fosse mais farta do que nos anos anteriores e os judeus não tivessem alimento para o ano seguinte? 

Escrever essa lei e fazer os demais confiarem numa falsa promessa de bênçãos Divinas, seria o cúmulo da tolice e da irresponsabilidade. Contudo, os judeus aceitaram as leis do Sabático e se comprometeram a segui-las. E se o fizeram, é porque sabiam que era uma lei criada por D’us. Nem Moshé nem nenhum outro ser humano poderia fazer um povo inteiro colocar sua sobrevivência em risco. Na verdade, se D’us não tivesse escrito a Torá, os judeus teriam que ser muito tolos para concordar de viver segundo a maioria de seus mandamentos.

Por exemplo, por que eles aceitariam a lei da circuncisão? Três mil anos atrás ninguém sabia que a circuncisão pode evitar a disseminação de várias doenças terríveis. Podemos entender a razão para um povo aceitar leis relativas ao funcionamento adequado da sociedade, como as que proíbem o assassinato, adultério e roubo, mas por que os judeus aceitariam as muitas leis rituais da Torá – algumas das quais, extremamente complexas e esotéricas – e concordariam em não violar muitas de suas leis que os privam de vários dos prazeres da vida? Por que os judeus concordariam em não comer frutos do mar e carne não-casher? Por que eles aceitariam todas as leis da Torá sobre as relações sexuais proibidas?

Vejamos, será que milhões de pessoas aceitariam a Torá se não a tivessem recebido diretamente de D’us e soubessem, de fato, que era Sua Vontade que seguissem suas leis? Há um famoso Midrash que ensina que antes de outorgar a Torá ao Povo Judeu, D’us a ofereceu a todas as demais nações do mundo que a recusaram. Mas trata-se de um Midrash metafórico, que ensina que D’us, por ser Onisciente, sabia que somente os judeus aceitariam seguir as leis da Torá; não se trata de um relato histórico. Já houve um caso na história em que a Torá foi ofertada a grandes grupos de pessoas que se recusaram a aceitá-la? Sim, houve.
Muitas pessoas não o sabem, mas os fundadores do Cristianismo eram judeus seguidores da Torá. O Cristianismo se iniciou como um movimento messiânico judaico. O propósito dos primeiros cristãos não era começar uma nova religião, mas ganhar o máximo de adeptos para seu movimento – judeus ou não. E como eles consideravam seu movimento messiânico autenticamente judaico, somente seriam aceitos os não-judeus que se convertessem ao judaísmo. 

Mas, segundo relato da Bíblia cristã, quando os fundadores do Cristianismo saíram em suas primeiras missões proselitistas, não tiveram sucesso em sua tentativa de converter os pagãos ao judaísmo. Apesar de terem ouvido que a Torá era a Palavra de D’us, os gentios ficaram assombrados com seus mandamentos – as leis de Casherut, do Shabat e, sobretudo, da circuncisão. Os primeiros cristãos somente conseguiram converter pagãos a seu recém-criado movimento quando abandonaram a exigência de que os não-judeus aceitassem as leis da Torá. Eles provavelmente perceberam que nenhuma nação, exceto os judeus, se sujeitaria àquelas leis. 

Quem pode culpar os pagãos por recusar a Torá? É compreensível
que os judeus a tenham aceitado – eles testemunharam a Revelação Divina no Sinai, e, na verdade, não tinham muita escolha. Mas por que um povo que não testemunhou a Revelação e a outorga da Torá iria aceitar a responsabilidade de cumprir todos os seus difíceis mandamentos?
Um cético implacável pode alegar que os judeus escreveram a Torá e inventaram todas as suas complicadas leis para difundir o próprio argumento que aqui defendemos: como nenhum povo seria capaz de criar tais leis para si, a Torá certamente é de autoria Divina.
Seria possível que os judeus propositalmente se colocassem numa camisa de força para ludibriar o mundo, inclusive seus descendentes, dizendo que D’us lhes teria aparecido, apenas a eles, e os teria escolhido para lhes entregar Suas Leis? Novamente, a resposta é que isso seria altamente improvável. E se esse era o seu plano, o tiro saiu pela culatra, pois a Revelação no Sinai não rendeu aos judeus o amor e a admiração do resto da humanidade. Milênios antes de ocorrer a Inquisição e o Holocausto, o Talmud já tinha previsto que os judeus seriam odiados por terem sido escolhidos por D’us para receber a Sua Torá e testemunhar a única Revelação Divina na História.

O Rabi Yehoshua ben Levi assim ensina no Talmud: Por que a montanha onde a Torá foi entregue se chama Sinai? Porque ela causaria Sinat – ódio – entre o restante do mundo contra o Povo Judeu. 

Um Livro nada lisonjeiro

Além de conter inúmeras leis de difícil cumprimento, a Torá narra muitas histórias, a maioria das quais não são nada lisonjeiras para nosso povo. Mesmo o relato mais espetacular da Torá – o da Revelação Divina – não foi uma ocasião inteiramente feliz, pois apenas 40 dias após sua ocorrência, o povo já adorava um bezerro de ouro, fazendo com que Moshé quebrasse as Tábuas da Lei. Até o Livro de Gênese é pouco lisonjeiro ao nosso povo. Pois enquanto muitas outras nações santificam seus fundadores e criadores, a Torá descreve nossos Patriarcas e antepassados como seres humanos falíveis, que suportaram provações e infortúnios e que tiveram fraquezas e cometeram erros. 

Um cético poderia novamente alegar que Moshé ou os judeus escreveram a Torá de tal forma que provasse o argumento que acabamos de defender: nenhum povo poderia escrever relatos tão pouco lisonjeiros sobre si próprio; portanto, a Torá certamente foi escrita por D’us. 

Mas, muito sinceramente, os relatos da Torá não são apenas pouco elogiosos – o que serviria para torná-los ainda mais críveis – eles são simplesmente prejudiciais. Algumas histórias negativas talvez servissem para tornar as boas um pouco mais críveis, mas a Torá é repleta de relatos que colocam os judeus sob um prisma muito negativo. Pode ser difícil, mesmo, encontrar uma porção da Torá que não contenha uma ação negativa de nossos antepassados. Será que as pessoas escreveriam relatos tão danosos sobre si próprias? Será que
quereriam ser lembradas dessa forma por seus filhos e seus futuros descendentes? 

O que é ainda mais incrível é que apesar das muitas leis de difícil cumprimento e das histórias nada lisonjeiras, nós, judeus, reverenciamos a Torá. Não há objeto inanimado mais sagrado ao judaísmo do que um rolo contendo os Cinco Livros da Torá. E por quê? Porque nós, como nossos antepassados, não temos dúvidas acerca de sua autoria. Quando o Mestre do Universo escreve um livro e elenca nosso povo como protagonistas, nós o reverenciamos, mesmo que seu conteúdo nem sempre nos favoreça.

Alucinógenos e alucinações

Seria possível que Moshé e os três milhões de judeus que ele liderou não tenham tramado um plano mentiroso, mas se tenham confundido com o que imaginaram ter visto? Um professor israelense de Filosofia da Universidade Hebraica, Benny Shannon, apresentou a seguinte hipótese: a Revelação Divina no Sinai teria sido, na realidade, uma alucinação decorrente do fato de Moshé e os judeus terem tomado uma substância altamente psicodélica, encontrada na árvore da acácia, frequentemente mencionada na Bíblia. O professor fez a seguinte declaração: “No que toca ao Monte Sinai e a Moshé, o que ocorreu foi um evento cósmico sobrenatural – o que não acredito – ou uma lenda – no que tampouco acredito – ou, finalmente e mais provável, um evento que uniu Moshé e o Povo de Israel sob o efeito de narcóticos”.

Antes de analisar a hipótese do prof. Shannon, é interessante observar que mesmo ele – que não crê em uma Revelação Divina – não acredita que o relato seja uma lenda. Isso serve como exemplo verdadeiro do que discutimos no artigo anterior: que é muito difícil negar um evento público ocorrido diante de milhões de pessoas. Como o professor não pode negar o evento, mas tampouco pode aceitar que tenha havido uma Revelação Divina, ele necessita recorrer a outra explicação – o uso de alucinógenos. 

O problema na teoria do acadêmico é que é necessário ter muito mais fé para se acreditar na mesma do que para acreditar que D’us Se revelou aos judeus no Monte Sinai. Senão, como teria Moshé conseguido encontrar a quantidade de alucinógenos para três milhões de pessoas? Segundo, como Moshé convenceu todos eles a ingerirem a droga? A própria Torá atesta que o povo frequentemente se rebelava contra ele. E mesmo se os milhões que lá estavam concordassem em se drogar, teriam-na consumido, todos, ao mesmo tempo? E teria a droga afetado milhões de pessoa exatamente ao mesmo tempo e da mesmíssima forma? Sabemos que diferentes pessoas reagem de diferentes maneiras à mesma droga. Alguns organismos reagem intensamente; outros, não. Algumas pessoas levam muito tempo para reagir a um alucinógeno, ao passo que outras reagem quase que imediatamente após sua ingestão. Além disso, como essas substâncias afetam o cérebro, e como não há duas pessoas – que dizer de milhões delas – que pensem de forma igual, as pessoas veem coisas diferentes quando ingerem essas drogas. Portanto, seria quase uma impossibilidade estatística que milhões de pessoas tomassem uma droga e tivessem simultaneamente uma mesma experiência ilusória e ouvissem a mesmíssima mensagem... 

Mas, o mais revelador acerca da hipótese do Prof. Benny Shannon é que além de ter admitido não ter “nenhuma prova direta de sua interpretação”, ele fez a seguinte declaração: ”Mas nem todos que usam a tal planta alucinógena trazem a Torá... Para tanto, você tem que ser um Moshé”...

A pergunta que deveria ser feita ao professor é: de onde exatamente Moshé trouxe a Torá? De onde veio a Torá? Se ele acredita que Moshé a escreveu e que sua teoria da droga alucinógena está correta, por que o Povo Judeu deveria viver de acordo com as leis criadas por um homem que era tão drogado que tinha alucinações sobre uma suposta Revelação Divina? 

Indo mais além, a teoria de que Moshé dopou o povo para trapaceá-los e os fazer crer que D’us Se revelara a eles não é crível por uma razão adicional. Se os inimigos de Moshé tivessem sequer suspeitado de alguma desonestidade – se eles acreditassem que ele os estivesse drogando para induzi-los a algum tipo de experiência coletiva – eles o teriam acusado de ser um falso profeta, um charlatão. Moshé tinha sua quota de inimigos entre o povo. É triste admiti-lo, mas muitos dos judeus a quem ele conduziu inventaram e disseminaram mentiras terríveis contra ele. 

Acusaram-no de não ter habilidades para liderar, de nepotismo, de roubo, de adultério e até de assassinato. Mas, interessante, ninguém ousou acusá-lo de ser um falso profeta. Até mesmo Korach, quando tentou depor Moshé e Aaron, nunca sequer sugeriu que ele tivesse enganado o povo. Ele questionou o direito de Moshé de liderar os judeus, mas nunca o acusou de charlatão. Nem mesmo Korach poderia questionar a veracidade da Revelação Divina no Sinai ou a autoria Divina da Torá. Ele sim questionou a aplicação de alguns dos mandamentos da Torá por Moshé, mas jamais sequer ousou alegar que ele os tivesse criado. E por quê? Porque a verdade estava evidente para todos os judeus. A Revelação Divina tinha sido um evento público; todos a tinham vivenciado. Ninguém poderia alegar que Moshé a tinha maquinado - nem mesmo seu pior inimigo.

E não foram apenas Korach e os inimigos de Moshé que não puderam negar a veracidade da Revelação Divina e a autoria Divina da Torá. Através dos milênios, os inimigos históricos do Povo Judeu tampouco conseguiram argumentar que eram falsidades. 

No decorrer da história, muitas inverdades e maldades foram ditas sobre os judeus, mas nunca fomos chamados de “povo inventado”, um povo que inventou sua própria história. Alguém disse, muito apropriadamente, que o elogio de um inimigo vale muito mais do que o de um amigo. Quando mesmo nossos inimigos admitem a veracidade da Revelação Divina e da Torá, é porque a evidência é muito óbvia para ser negada.

A Essência do Povo Judeu

Muitos perguntam como é possível que, apesar de 2.000 anos de exílio, a queda do Templo, os massacres, a Inquisição, as expulsões, os pogroms e, acima de tudo, o Holocausto, nós, judeus, sobrevivemos e permanecemos fiéis a D’us. A resposta é que a Revelação Divina no Sinai ficou gravada no inconsciente coletivo do Povo Judeu. A Voz que se ouviu no Monte Sinai reverbera até hoje no coração de todos nós, mesmo que disso não tenhamos consciência. Cinquenta dias após o Êxodo, D’us Se fez ver a nosso povo e nos deu uma missão. Foi uma missão tão extraordinária que mesmo 2.000 anos de exílio e o Holocausto não foram capazes de abortar.

Que missão foi essa? Está escrito no Livro de Isaías: “Vós sois Minhas testemunhas, diz o Eterno, e Eu sou D’us” (43:12). O Midrash faz uma declaração espantosa: “Enquanto fordes Minhas testemunhas, Eu sou D’us; se deixardes de ser Minhas testemunhas, deixarei de ser D’us”. Como dissemos no artigo anterior, se não fôssemos nós, judeus, toda a humanidade seria deísta1. Nós somos o canal através do qual D’us se tornou conhecido no mundo.

Nossa missão é manter nossa própria existência e, por meio disso, preservar a existência de D’us no mundo. Esta é a missão maior que pode ser atribuída a um povo e a cada um dos indivíduos que o compõem. É uma missão árdua e desafiadora, mas que por ela vale a pena viver e lutar, e que, sem dúvida, constitui o propósito e a essência do Povo Judeu.
Bibliografia:

Rabi Simmons, Shraga, "Sabbatical and Sinai". Artigo publicado  no site: www.aish.com
"Was Moses high on Mount Sinai?". Artigo publicado no site www.msnbc.com
1 O deísmo é uma doutrina que considera a razão como a única via capaz de assegurar a existência de D'us, rejeitando, para tal fim, o ensinamento ou a prática de qualquer religião organizada.



ADÃO E EVA TIVERAM ANCESTRAIS?

A Scientific American Magazine traz, com freqüência, artigos que tratam de algum aspecto da origem humana. Mas nenhum jamais menciona Adão e Eva.
A omissão não surpreende. As pesquisas científicas lidam com aspectos físicos da realidade, enquanto a criação bíblica de Adão está relacionada com a espiritualidade da neshamá, a alma da humanidade insuflada por D’us em Adão, há quase 6.000 anos, em Rosh Hashaná. Esta é a criação singular descrita em Gênese 1:27.

E o corpo de Adão? Será que também foi uma criação especial? Ou será que existe a possibilidade do corpo humano ter-se desenvolvido através dos tempos, até se tornar um recipiente capaz de receber e conter a neshamá, a alma humana? (A título de esclarecimento, o termo “Adam” refere-se a homem e mulher, como menciona a Bíblia em Gênese 5:2, algo como “ser humano”).

Anatomicamente, o corpo humano parece de fato estar relacionado com formas de vida menos complexas. Muitas das enzimas que controlam as funções humanas são réplicas quase perfeitas das encontradas em outros filos, ou reinos. O gene que controla o posicionamento e a orientação do braço humano é encontrado em todos os vertebrados e também nos insetos. A semelhança é tamanha que quando porções deste gene humano são implantadas no genoma da mosca drosófila, determinam o posicionamento e a orientação da asa da mosca. O mesmo serve para os genes que controlam o desenvolvimento do olho e um grande número de outros. Estes genes têm mais de cem pontos ativos. A semelhança entre eles pode não ter sido mera coincidência. Para os cientistas, estes fatos indicam a existência de um ancestral comum. Os ossos dos membros inferiores do crocodilo e a nadadeira da baleia bicuda são os mesmos do braço e mão de um homem; diferem no comprimento, é claro, mas todos os ossos existem. A estrutura do cérebro humano espelha o cérebro de ratos e macacos. O embrião humano desenvolve uma bolsa de gema semelhante à gema das ovas dos peixes, a seguir uma cauda e, então, a pele prega-se de forma semelhante às fendas das guelras. A ontogenia do feto humano parece ser uma recapitulação da filogenia, lembrando sempre que, em cada estágio, é a estrutura primitiva ou juvenil – e não a adulta – que se forma no feto.

Apesar de serem escassos e incompletos os fósseis atribuídos ao Homo habilis e ao Homo erectus, quando se alcança o estrato de 50.000 anos atrás, muitos fósseis do “homem de Cro-Magnon” são encontrados em número suficiente para encher os museus. O fóssil do “homem de Cro-Magnon” é uma cópia exata do esqueleto do homem moderno, inclusive no formato e capacidade cranianas.
As publicações científicas sobre esses fósseis e os artefatos a eles associados não são fruto da maquinação de alguns cientistas loucos. Existem evidências esmagadoras tanto sobre a invenção da agricultura, há 10.000 anos, como da tecelagem, há 9.000 anos, e da olearia, há 8.000 anos. Existem pinturas em caverna que datam de 10 a 30 mil anos atrás. Do ponto de vista teológico, desmentir estas evidências é contraproducente. Aliás, não há por que negá-las, desde que acreditemos que sejam válidas as interpretações bíblicas do Talmud feitas por grandes sábios como Onkelos, Rashi, Maimônides e Nachmânides.

A primeira objeção à possibilidade de Adão ter um ancestral é temporal. Agricultura há 10.000 anos? Como pode ser verdade, se afirmamos que neste Rosh Hashaná, setembro de 2002, o mundo completará 5763 anos? Onde ficaram os anos que faltam? Em Leviticus Rabá (29:1), como em outras fontes, constatamos algo com que todos os sábios concordam: Rosh Hashaná comemora a criação da alma de Adão e os “Seis dias da Gênese” não estão incluídos nos anos do calendário. No entanto, o Talmud (Haguigá 12A) e Rashi, baseando-se no versículo “Era tarde e era manhã, um dia” (Gênese 1:5), informam-nos que os dias da Gênese são de 24 horas, desde o “primeiro dia”. Se cada dia tem 24 horas, por que então excluir esses seis primeiros dias, de 24 horas, do restante dos dias – também de 24 horas – que se seguem à criação de Adão? Nachmânides nos dá uma resposta: estes primeiros seis dias contêm todas as eras e todos os segredos do universo (comentário em Êxodo 21:2 e Levítico 25:2). Foi necessária a descoberta de Einstein sobre a relatividade do tempo para resolver o aparente paradoxo: como poderiam todas as eras do universo estar contidas em apenas seis dias, de 24 horas cada? Se olharmos a Criação de uma maneira retrospectiva, usando o hoje como ponto de partida, nosso imenso universo aparenta ter de 10 a 20 bilhões de anos. Mas se olharmos para a Criação projetando-a para o futuro, da forma como é descrita no capítulo 1 do livro Gênese, visualizando o universo a partir de uma época em que seu tamanho era 1.012 vezes menor do que é atualmente, ou seja, a partir do primeiro dia, o universo pareceria ter meros seis dias de vida. Esta é a natureza de “tempo” em um mundo em que as leis de relatividade fazem parte das leis da natureza.
A interpretação padrão do redshift (o deslocamento para o vermelho, fenômeno causado pelo aumento do comprimento da onda de radiação e a redução simultânea da freqüência de radiação) – como efeito da expansão do universo – prevê que o mesmo fator de deslocamento aplica-se a índices observados de ocorrência de eventos distantes, mesmo quando a época é tão anterior que o fator não possa ser observado na radiação detectada. Então o tempo da existência da agricultura é de 10.000 anos e das pinturas nas cavernas de 30.000 anos. A pergunta é se estas invenções anteriores a Adão ameaçam a visão da Torá sobre nossas origens.

A união de teologia e paleontologia

“E D’us disse: Façamos o homem (em hebraico, Adam)” (Gên. 2:7)
“E D’us criou o homem (em hebraico, Adam)” (Gên. :27)

Aqui a Torá nos ensina que Adão é “feito” e “criado”. Nós até sabemos a matéria-prima utilizada para sua produção. “D’us formou o homem do pó da terra” (Gên. 2:7). Mas se analisarmos paralelamente duas passagens da Bíblia: “No início, D’us criou o céu e a terra” (Gênese 1:1) e “pois que em seis dias D’us fez os céus e terra” (Êxodo 31:17), constatamos que enquanto o uso bíblico da palavra “criação” sugere uma ação instantânea de D’us, “fazer” na linguagem bíblica é um processo que exige tanto matéria quanto tempo, como está dito: “pois que em seis dias”. Com o passar do tempo, algo foi criado –
Adão, mas este ser não estava completo. Faltava-lhe receber a alma da vida humana. Se a formação e o desenvolvimento do homem – de Adão – foi um processo que durou um milésimo de segundo ou milhões de anos, não é algo que a Torá deixe claro. Alguns versos nos dão uma pista, talvez uma resposta definitiva.

O Talmud (Eruvim 18A) se detém sobre o nascimento de Set, terceiro filho de Adão e Eva, analisando por que a Torá relata duas vezes seu nascimento.

“E tornou Adão a conhecer sua mulher, e ela deu a luz um filho a quem chamou Set” (Gênese 4:25).
“E viveu Adão 130 anos, e ele teve um filho à sua semelhança e forma. Ele o chamou de Set” (Gênese 5:3).

Segundo o Talmud, estes dois versos revelam que, após o assassinato de Abel por Caim, Adão e Eva se separaram maritalmente por 130 anos, e somente então Adão deitou-se “novamente” com Eva. Durante estes 130 anos, Adão procriou filhos com outros seres, não com Eva. O Radak comenta que esses filhos eram de fato crianças. Faltava-lhes, no entanto, a neshamá, a alma, para torná-los seres humanos. Maimônides (Guia 1:7), baseado em Eruvim e no Zohar, descreve estas crianças como sendo seres humanos em forma e inteligência, mas nada humanos em espiritualidade.

Nachmânides concentra-se num prefixo supérfluo, lamed, em hebraico, que transmite a idéia de transformação através de uma ação externa. No caso, o insuflar da alma. Assim, “... e soprou por suas narinas a neshamá da vida e Adão transformou-se em uma alma viva”.

Segundo o comentário de Nachmânides, um dos maiores sábios e cabalistas, a preposição “em” é usada para indicar uma mudança na essência da personalidade e “pode ser que o verso esteja afirmando que Adão era um ser vivo completo e a neshamá o transformou em outro homem”. Outro homem! De acordo com Nachmânides, havia um homem antes da criação da neshamá, mas aquele ser hominídio não era exatamente humano.

Onkelos resumiu tudo isso, 400 anos antes do Talmud e mil anos antes de Nachmânides. A expressão nefesh chayá, uma alma viva, aparece três vezes nesta porção da Torá: para animais que vivem na água (Gên. 1:20), para animais que vivem sobre a terra (Gên. 1:24) e para humanos como “... em uma alma viva” (Gên. 2:7). Nos primeiros dois casos, Onkelos traduz o termo literalmente, “uma alma viva”. Mas para os seres humanos, por causa da preposição “em”, Onkelos traduz o termo como “e Adão transformou-se em um espírito falante”.

A capacidade de se comunicar espiritualmente é o que faz os homens serem diferentes de todos os outros animais. Não é nossa força, nem nossa inteligência. Mas nossa espiritualidade. A fala é, nos homens, o elo entre os aspectos físicos e espirituais da existência. É a neshamá que faz esta ligação e nos impele a sentir a unidade transcendental que permeia toda a existência e da qual trata o Shemá: “Ouve, Israel, o Eterno é teu D’us, o Eterno é Um”. A unicidade transcendental é a marca do Eterno. Hominídios, com feições humanas, co-existiram e precederam Adão. Os antigos comentaristas bíblicos estavam cientes dessa realidade. A descoberta de seus fósseis não constitui surpresa para a Torá. Na definição bíblica, um homem é um animal – um hominídio – no qual foi insuflada a alma criada, a neshamá.

Apesar de a neshamá não deixar nenhum vestígio fossilizado para provar sua aparição na história da humanidade, o efeito de sua criação está claramente gravado nos achados arqueológicos. A escrita, o comércio e o surgimento das grandes cidades datam de 5.000 a 6.000 anos atrás, a época de Adão. A escrita foi criada para satisfazer as necessidades de se manterem registros sobre o comércio; e o comércio, por sua vez, foi criado para satisfazer as necessidades materiais das grandes cidades. A pergunta que permanece sem resposta, então, é: por que as grandes cidades emergiram nesta época?
Minha sugestão de resposta é que a espiritualidade dos humanos concedida pela neshamá e o desejo de transmitir esta espiritualidade para os outros foi a força motriz que transformou a civilização de grupos de aldeias formadas por clãs em cidades, como Uruk e Ur, na Mesopotâmia.

Artigo publicado pela Aish HaToráh em seu site.
Gerald Schroeder obteve os titulos de Bacharel, Mestre e Doutor pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). É autor dos livros Genesis and the Big Bang, sobre a descoberta da harmonia entre a ciência moderna e a Bíblia, editado pela Bantam Doubleday e já traduzido em sete idiomas; The Science of God e The Hidden Face of God, editados pela divisão Free Press da Editora Simon & Schuster. Leciona na Faculdade de Estudos Judaicos “Aish HaTorah”.